Stafin & Carvalho

A entrada em vigor da nova redação da NR-1 (Norma Regulamentadora nº 1) trouxe desafios concretos para as empresas brasileiras, especialmente no que diz respeito à preservação da saúde e da integridade física e mental dos trabalhadores. A norma estabelece princípios fundamentais para a gestão de segurança e saúde no trabalho, com ênfase na prevenção e no controle efetivo dos riscos ocupacionais.

Mais do que um mero cumprimento formal, a NR-1 exige uma mudança na cultura organizacional. O foco passa a ser a promoção de ambientes laborais seguros e saudáveis, com atenção especial aos aspectos físicos, ergonômicos e psicossociais das atividades profissionais.

Saúde mental no centro da discussão

A atualização da norma ocorre em um momento crítico para a saúde ocupacional no Brasil. Dados recentes apontam um aumento expressivo nos afastamentos por transtornos emocionais. Somente em 2024, o número de licenças por ansiedade e depressão cresceu 67% em relação ao ano anterior, totalizando 472,3 mil casos, segundo o INSS.

No cenário global, a Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que mais de 301 milhões de pessoas convivem com transtornos de ansiedade, enquanto 280 milhões sofrem de depressão. Esses dados reforçam a urgência de medidas efetivas para garantir o bem-estar psicológico dos trabalhadores dentro das empresas.

O que muda na prática com a NR-1

Entre as principais exigências, destaca-se o Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR), que substitui o antigo PPRA e exige das empresas uma análise detalhada e individualizada dos riscos presentes no ambiente laboral. A proposta é identificar, controlar e acompanhar os riscos ocupacionais, com base em critérios técnicos e atualizados.

A nova norma também valoriza a capacitação periódica dos colaboradores, a documentação adequada de todos os procedimentos e a implementação de medidas preventivas que vão além do papel, devendo ser aplicadas de forma real e contínua.

Desafios e resistências

Muitas empresas, especialmente as de menor porte, ainda enfrentam dificuldades técnicas e estruturais para se adequar às exigências da NR-1. No entanto, tratar a norma como um obstáculo ou um custo operacional pode representar um grande erro estratégico. A ausência de ações efetivas de prevenção expõe a organização a riscos legais, fiscais e reputacionais, além de comprometer diretamente a saúde de seus colaboradores.

É necessário abandonar a visão reativa e adotar uma postura proativa em relação à saúde ocupacional. Prevenir adoecimentos, sobretudo os de natureza mental, é hoje um dos maiores desafios da gestão de pessoas.

Como as empresas podem se adequar corretamente às exigências da NR-1

Adequar-se à NR-1 vai além de cumprir formalidades — é necessário implementar ações concretas que promovam a saúde integral do trabalhador e reduzam riscos no ambiente laboral. Veja alguns passos específicos que as empresas devem seguir:

  1. Mapear detalhadamente os riscos psicossociais e emocionais
    Identificar fatores de estresse, pressão excessiva, jornadas prolongadas e outras condições que possam causar transtornos mentais, com base em entrevistas, questionários e acompanhamento médico.
  2. Desenvolver planos de ação para controle dos riscos identificados
    Criar medidas específicas para mitigar os riscos emocionais, como programas de apoio psicológico, pausas regulares, flexibilização de horários e ambientes de trabalho menos exaustivos.
  3. Implementar o Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR) integrado ao GRO
    Garantir que o PGR contemple todos os riscos (físicos, químicos, biológicos, ergonômicos e psicossociais), com ações práticas e metas claras para redução e monitoramento dos riscos, incluindo indicadores de saúde mental.
  4. Capacitar gestores e trabalhadores para a identificação precoce de sinais de adoecimento
    Treinamentos focados em saúde mental, primeiros sinais de ansiedade, depressão e outros transtornos, para que a equipe saiba quando e como agir, buscando apoio profissional.
  5. Digitalizar e organizar a documentação exigida pela NR-1
    Utilizar plataformas digitais para garantir acesso fácil, integridade e atualização constante do PGR e dos registros de treinamentos, monitoramentos e inspeções.
  6. Revisar periodicamente o ambiente de trabalho e os processos
    Ajustar o PGR conforme mudanças na rotina, incluindo feedback dos trabalhadores sobre condições de trabalho e eventuais novos riscos detectados.
  7. Buscar consultoria técnica especializada para adequação
    Contratar profissionais de segurança do trabalho e saúde ocupacional que conheçam profundamente a NR-1 e possam auxiliar na implementação das ações específicas de prevenção.

 

Conclusão

A nova NR-1 não é apenas um ajuste técnico nas regras de segurança do trabalho. Ela representa um novo marco regulatório, que coloca a saúde física e emocional do trabalhador no centro das decisões organizacionais. Ao se adaptar corretamente às novas exigências, as empresas não apenas evitam sanções, mas demonstram respeito, cuidado e responsabilidade social.

Promover ambientes saudáveis é investir em produtividade, reduzir afastamentos e construir uma cultura organizacional sólida e humana, o que, no fim das contas, é um dos pilares para o crescimento sustentável.

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